Como a Arqgen tem transformado os setores da arquitetura e construção graças à inteligência artificial e ao design generativo
Entrevista com Alexandre Kuroda e Thomas Takeuchi, fundadores da Arqgen
Por muito tempo, os setores da construção civil e da arquitetura foram marcados por uma abordagem mais conservadora, com processos morosos, métodos manuais e pouca abertura para a inovação. Esse cenário, no entanto, vem mudando nos últimos anos: a tecnologia tem ganhado espaço junto a essas áreas, abrindo um leque de possibilidades para empresas e profissionais que buscam mais eficiência e agilidade na concepção de projetos.
A Arqgen, construtech investida de nosso segundo fundo, tem sido uma das responsáveis por trazer mudanças para esses segmentos. A startup faz uso da inteligência artificial e do design generativo para automatizar etapas operacionais, reduzir prazos e aumentar a produtividade na criação de projetos arquitetônicos, liberando arquitetos e engenheiros para uma atuação mais estratégica e criativa.
Nesta entrevista com Alexandre Kuroda e Thomas Takeuchi, fundadores da Arqgen, conversamos sobre como a startup vem redefinindo os padrões do setor, falamos de sua trajetória de crescimento e do reconhecimento pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empresa pública fomentadora vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) que concedeu à empresa uma subvenção econômica de R$ 10 milhões.
A Arqgen surgiu para sanar qual dor do mercado?
Surgimos para resolver um problema na concepção de projetos dentro da arquitetura, tradicionalmente tidos como morosos e artesanais, resolvidos por tentativa e erro, em desenhos, por profissionais responsáveis pela expansão e pelo desenvolvimento de novos negócios.
Somados às suas atividades e responsabilidades cotidianas, esses profissionais se sobrecarregam, se limitando a resolver demandas operacionais e repetitivas em sua maioria, esmagadas por prazos muito apertados. São dois elos de uma mesma cadeia, ambos demonstrando certo grau de insatisfação com a produtividade, o que impossibilita uma atuação mais estratégica.
A Arqgen nasceu justamente para aliviar esse gargalo na produção, otimizando a concepção dos projetos de arquitetura com o auxílio de inteligência artificial e do design generativo, tornando o trabalho de arquitetos cada vez menos operacional e mais estratégico.
Qual a proposta de valor da sua solução?
Além de reduzir o tempo de concepção de projetos, o que tradicionalmente pode durar semanas e conosco leva apenas alguns minutos, a solução da Arqgen também tem o potencial de identificar alternativas mais eficientes e de empoderar os arquitetos a explorar os limites das suas intenções de projeto, possibilitando a criação de trabalhos ainda melhores.
No contexto de incorporações imobiliárias residenciais, onde o valor dos ativos é bastante elevado, contar com uma solução capaz de conceber rapidamente projetos arquitetônicos com mais unidades e disponibilizar métricas quantitativas e qualitativas, comparando as opções de projeto concebidas em relação ao método tradicional, revoluciona toda a dinâmica do mercado.
E como essa entrega é, de fato, mensurada?
Entre as formas de mensuração, temos o tempo de concepção dos projetos, agora realizados em alguns minutos; a quantidade de opções de projetos gerados num período específico (um arquiteto tradicional vai entregar até 3 opções de projetos e vai cobrar extras por mais solicitações) e pela qualidade dos projetos. Sempre nos perguntamos o quão próximo ou melhor um projeto criado pela ferramenta foi na comparação por outro semelhante, realizado por um ser humano.
Recentemente, realizamos um benchmarking na Arqgen, onde, às cegas, um arquiteto da nossa equipe levou 90 minutos para concluir um projeto de incorporação unifamiliar, posicionando 202 unidades habitacionais. Paralelamente, a solução da Arqgen para o mesmo terreno posicionou 209 unidades em apenas 5 minutos. Ainda mais interessante foi o resultado do trabalho híbrido entre nosso arquiteto e a solução, o que resultou em 221 unidades posicionadas num total de 16 minutos. Ou seja, com a influência da Arqgen, foi possível incluir 19 unidades habitacionais – considerado um ticket médio aproximado de R$ 350 mil, isso representou um acréscimo de R$ 6,6 milhões no VGV.
E qual o tamanho da Arqgen hoje? Conseguem abrir algumas métricas do negócio?
No ano de 2024, a Arqgen viu sua receita recorrente mensal (MRR) crescer mais de 20 vezes. No mesmo período, duplicamos o tamanho de nossa equipe e o número de clientes triplicou. Hoje, somos 35 colaboradores, incluindo arquitetos desenvolvedores, cientistas da computação, engenheiros de machine learning, plataforma, marketing e vendas. Temos ainda 15 clientes no total, dentre os quais a Cury, a Direcional Engenharia e a Plano&Plano, construtoras que atuam no mercado de habitação de interesse social, três das principais viabilizadoras do programa Minha Casa, Minha Vida, do Governo Federal, além da Ribeiro Caram, Gerdau e Scala Data Centers.
Há uma percepção de valor maior para algum segmento específico?
Apesar de podermos atuar em diversas escalas de projetos e contextos, neste último ano, o mercado imobiliário foi o que mais buscou a solução da Arqgen, em especial empresas que atuam no segmento econômico, como são chamados os projetos de habitação de interesse social (HIS) e de habitação de mercado popular (HMP), impulsionados, sobretudo, pela reformulação do programa Minha Casa, Minha Vida.
E como definiria o perfil do seu cliente ideal (ICP)?
Hoje a principal solução ofertada pela Arqgen é focada na geração automatizada de estudos de viabilidade, capaz de trazer múltiplas opções de implementação para os terrenos em análise, apresentando não só a possibilidade da construção, mas o que pode ser construído respeitando as normas vigentes e as restrições urbanísticas próprias daquele espaço e, sobretudo, utilizando produtos imobiliários e regras de projetos dos próprios clientes. Dito isto, entendemos que nosso ICP são as construtoras e incorporadoras residenciais verticais do segmento econômico.
Adicionalmente, oferecemos soluções que estão para além do estudo de viabilidade de terrenos, com simulações para a construção de grandes galpões e, até mesmo, soluções mais customizadas, com a concepção automática de layouts arquitetônicos para fins varejistas e corporativos.
E como foi para vocês vencer o edital da Finep? Como esses recursos têm sido investidos?
Os editais da Finep são extremamente criteriosos e os projetos são analisados sob perspectivas que medem seu grau de inovação e ineditismo, seus riscos tecnológicos e até variantes externas direta ou indiretamente relacionadas. Com assessoria da Galapos, consultoria especializada em incentivos governamentais, elaboramos um projeto minucioso, que se mostrou bastante acertado. Termos sido contemplados nos serviu como reconhecimento do potencial disruptivo do que temos feito até aqui e essa chancela nos enche de confiança nos rumos que escolhemos para o desenvolvimento da empresa.
O projeto incentivado pela subvenção visa o alinhamento de modelos de processamento de linguagem natural (PNL) e grandes modelos de linguagem (LLMs) para o português brasileiro, a fim de garantir que eles sejam capazes de compreender e gerar informações cada vez mais relevantes para a personalização dos projetos arquitetônicos que a Arqgen entrega para seus clientes de forma autônoma.
Para finalizar, como está seu roadmap? Para onde caminha a sua solução nos próximos anos?
Em 2025, pretendemos nos consolidar como uma solução com proposta de valor irrecusável para construtoras e incorporadoras residenciais do segmento econômico. No médio e longo prazo, visualizamos a Arqgen não apenas qualificando estudos de viabilidade para empreendimentos residenciais do segmento mais econômico, mas também para os segmentos de médio e alto padrão, concomitantemente com o desenvolvimento de layouts arquitetônicos. A longo prazo, pretendemos unificar os dois produtos, gerando uma solução completa de estudo preliminar de arquitetura, capaz de resolver da implantação do edifício no terreno até seus layouts arquitetônicos.