Investir em seguros no early stage: despesa desnecessária ou investimento?
Entrevista com Beto Trindade, CEO da Alba Seguradora
Quando o assunto é seguro, muitos fundadores de startups encaram a questão como um custo dispensável. Afinal, em um cenário de crescimento acelerado e recursos limitados, a prioridade é investir no produto, conquistar clientes e atrair capital. No entanto, ignorar esse tema pode comprometer não apenas a segurança da operação, mas também a própria sustentabilidade do negócio.
A contratação de seguros vai muito além de uma medida preventiva contra riscos: pode ser um diferencial competitivo, um ativo para atrair talentos e um fator mais do que relevante na relação com investidores. No ecossistema de venture capital, é comum que fundadores nos perguntem sobre quais proteções são realmente necessárias para seus negócios e como estruturá-las de forma estratégica. Para responder a essas questões, conversamos com Beto Trindade, CEO da Alba Seguradora, que explica por que startups deveriam prestar mais atenção ao tema e como seguros podem agregar valor ao crescimento da empresa.
Considerando o contexto das startups early stage, que almejam crescimento acelerado e têm recursos limitados, como você avalia a percepção delas em relação à importância de seguros? É comum que seguros sejam negligenciados nesse estágio?
É comum que startups em fase inicial negligenciem a importância de seguros de Responsabilidade Civil, E&O (Erros e Omissões) ou D&O (Directors and Officers). O foco nesse estágio costuma ser o crescimento acelerado, e os recursos são geralmente limitados. A contratação de seguros pode ser vista como um custo adicional desnecessário, especialmente porque a cultura de seguros ainda não é muito forte no Brasil.
Quais são os principais desafios na comunicação da importância dos seguros para startups? Como superar a barreira da falta de conhecimento ou da percepção de alto custo?
Uma startup é uma atividade empresarial e muitas vezes é iniciada por pessoas ainda não totalmente ambientadas com as obrigações e responsabilidades de um empresário. O grande desafio é inserir o tema de seguros nos cursos e programas de formação de empreendedores, tornando-o parte da educação básica para quem quer construir um negócio.
Que tipo de "evangelismo" é necessário para que os fundadores de startups entendam a necessidade de se protegerem contra riscos inerentes ao negócio?
É fundamental mostrar aos fundadores que seguros não são apenas um custo, mas um investimento na proteção do negócio. Apresentar casos reais de startups que se beneficiaram da utilização de seguros e explicar como diferentes tipos de seguros podem mitigar riscos específicos é essencial. A comunicação deve ser clara e acessível, desmistificando o mundo dos seguros e mostrando como eles podem ser ferramentas importantes para o sucesso do negócio.
Poderia nos detalhar a importância de seguros específicos no contexto de startups?
Um seguro de vida para sócios, por exemplo, protege a empresa em caso de falecimento de um dos fundadores, garantindo recursos para a compra da participação que ficaria para os familiares e para a atração e contratação de um novo sócio ou executivo. Isso evita que a empresa seja inviabilizada pela perda de uma figura fundamental.
Outra possibilidade é um seguro de responsabilidade para proteção de dados (cyber seguro), que cobre danos causados a terceiros em decorrência de falhas na segurança da informação. Com a crescente importância desse tema, esse tipo de seguro se torna cada vez mais relevante. Os fundadores, por outro lado, têm a segurança de terem como arcar com uma multa eventual em razão de um possível vazamento.
Por fim, o seguro de equipamentos é uma proteção essencial, especialmente no contexto de trabalho remoto. Ele permite a reposição de equipamentos essenciais, como laptops e computadores, em caso de roubo ou avaria, sem comprometer o fluxo de caixa da empresa. Este já é algo contemplado por uma parte considerável das startups.
Como o seguro pode auxiliar na atração e retenção de talentos em startups?
Um dos seguros mais desejados hoje em dia é o Seguro Saúde. Oferecê-lo para funcionários e seus familiares diretos pode fazer uma enorme diferença na atração dos melhores talentos, reduzindo a pressão por remunerações mais elevadas.
De que forma a cultura de seguros em mercados mais maduros, como o americano, pode servir de exemplo para o mercado brasileiro?
Nos Estados Unidos, a cultura do seguro é bastante presente. Isso se deve tanto à clareza quanto às punições para empresas que causam danos a terceiros quanto à mentalidade de auto-responsabilidade, que leva as pessoas a buscarem proteção para riscos como incêndios, colisões de veículos e segurança financeira para si e para familiares – nestes casos, com previdência privada e seguro de vida, respectivamente.
Além da proteção contra riscos, como o seguro pode contribuir para a melhoria da rentabilidade e monetização de startups? Que oportunidades de negócio podem surgir a partir da integração de seguros em seus produtos/serviços?
Em diversas áreas, o seguro pode ser um produto acessório ou complementar, com grande potencial de aumentar margens e volume de negócios. Fintechs que concedem crédito podem oferecer seguros prestamistas, startups do agro podem incluir seguros rurais em seus serviços, entre outras possibilidades.
À medida que as startups buscam investimentos mais robustos, como a demonstração de uma cultura de gestão de riscos pode impactar a relação com investidores?
Investidores valorizam empresas que se preocupam com a segurança do negócio e mitigam riscos, especialmente em estágios mais avançados de desenvolvimento. Uma startup que adota seguros estratégicos demonstra maturidade na gestão e compromisso com a perenidade do negócio, fatores que podem influenciar positivamente a decisão de investimento.
Quais as suas expectativas em relação à criação de produtos de seguros mais personalizados para startups?
Assim como os seguros foram adaptados ao universo das franquias, o mesmo tende a acontecer com as startups, criando soluções sob medida para suas necessidades – desaguando em um processo de ganha-ganha para ambas as partes, para essas jovens empresas e também para o mercado de seguradoras.
Que tendências e inovações podemos esperar nesse segmento?
A tendência mais significativa é a do uso intensivo de inteligência artificial para que as jornadas do principal negócio da startup e de uma operação de venda de seguros sejam totalmente integradas, trazendo uma elevada experiência por parte dos clientes.